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A Pandemia pode ter passado, mas, onde você estiver, não se esqueça de mim.

A Pandemia pode ter passado, mas, onde você estiver, não se esqueça de mim.
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Falando em Pandemia, ela se foi, mas o Coronavírus continua entre nós, fazendo vítimas.

Falando em Pandemia, ela se foi, mas o Coronavírus continua entre nós, fazendo vítimas.
Por isso, continuemos nos cuidando.

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domingo, 24 de junho de 2012

O médico e o monstro 8


No começo da carreira, cheguei a tuitar algo do tipo “eu continuo sendo católico, mas, doravante, a medicina passa a ser minha nova religião”. Hoje já não tenho mais o mesmo entusiasmo que eu tinha na saída. Eu sei que medicina é bom, mas também cansa. Não obstante, ainda pretendo viver dela, enquanto vida tiver, ainda que enverede por outras searas. Viver não apenas dela, reconhecendo que a vida não é feita apenas de medicina. De vez em quando, é preciso rosetar.

Logo no princípio, eu também tuitei um trecho de uma mensagem que enviei aos meus ex-companheiros de faculdade, no qual eu disse que nós temos o direito e o dever de sermos bons médicos, mas precisamos nos lembrar de que a medicina, apesar de ser muito importante para nós, não é suficiente por si só em nos garantir a felicidade e nos dar tudo que precisamos para viver. Acima de tudo, precisamos também ser bons filhos, do céu e da terra, bons pais ou boas mães, bons maridos ou boas esposas, bons amigos, enfim, bons seres humanos.

Acredito que, em sintonia com esse pensamento, um de nossos mestres, padrinho de nossa classe e orador de nossa colação de grau, em seu discurso, disse que a melhor parte do trabalho é a volta para casa, no final da tarde, e rever a família. Sua voz ficou embargada na hora. Por sinal, quando estive visitando Sobral, há algumas semanas, e fui conferir o Festival de Música da Meruoca, eu reencontrei aquele mesmo mestre. Ele me pareceu um tanto debilitado fisicamente. Não é para menos. Eu soube que ele esteve se tratando de um câncer.

Em relação ao seu discurso, apenas uma correção: nem todos os médicos têm o privilégio de voltar para casa antes que o sol se ponha. Médicos em começo de carreira geralmente só chegam ao lar em horários mais avançados, porque precisam de dois ou três empregos, pelo menos, para sobreviver. Então, podem chegar a trabalhar em três turnos por dia. Dependendo de onde moram, ainda tem de enfrentar trânsito conturbado, como em Fortaleza, nos últimos dias. Os que são casados chegam e encontram conjuguê e filhos dormindo. Por vezes, passam mais de vinte e quatro horas fora de casa, em ritmo de maratona, um plantão atrás do outro, não apenas pela necessidade de ganhar dinheiro, mas também pelas sensações de dever a cumprir e de que sua presença é requerida e imprescindível em determinado serviço, porque não há mais ninguém disponível para aquele trabalho, além de considerar o impacto social de seu trabalho.

Aquele meu professor, assim como muitos dos meus orientadores na residência médica, por exemplo, após anos de trabalho e de experiência, conseguiu atingir um padrão que lhe permite trabalhar menos para receber mais, vivendo com qualidade de vida. Alguns veteranos conseguem, outros não. Tudo depende de fatores, como a especialidade envolvida, a região, o método de trabalho e os objetivos do cidadão, por exemplo. Por isso, eu creio que, um dia, especialmente quando eu for pai, eu também poderei me dar o luxo de, atuando em minha área, que é a psiquiatria, viver às expensas apenas dos meus rendimentos em dias úteis e nos horários comerciais.

Isso não quer dizer necessariamente que eu ficarei acomodado. De vez em quando, eu poderei fazer hora extra, não necessariamente para ganhar dinheiro, mas para fazer meu metiê social e aliviar a consciência. Afinal, como é que eu vou conseguir descansar a mente, sabendo que, enquanto estou no conforto do lar, curtindo a programação de TV no horário nobre, há serviços de saúde funcionando, inclusive da minha área, dos quais não precisarei para sobreviver, mas que estarão repletos de gente que precisará de gente como eu???

Para você ver a que ponto nós chegamos. Nós que somos mal acostumados a trabalhar como máquinas, que passamos mais tempo em serviço do que em qualquer outra coisa, quando diminuímos um pouco nosso ritmo de trabalho, temos a sensação de que nossos talentos estão sendo subutilizados e de que estamos desperdiçando nosso tempo livre.

Não proponho a você, se também for médico ou médica, que tome emprestado para si este peso que carrego em minha consciência. Não proponho também que se sinta um super-herói, que tome para si a responsabilidade sobre todas as mazelas da saúde pública e que, tampouco, pense ter o dever de "abraçar o mundo com as pernas", como, por vezes, a sociedade e os serviços de saúde esperam que você faça, considerando que você ganha muito dinheiro para trabalhar pouco. É assim que, por vezes, se aproveitam de nossa nobreza. Depois eu quero conversar mais a respeito disso.

Eu quero apenas propor uma reflexão, a mesma que venho fazendo, desde que vi o desabafo daquela médica plantonista de um pronto-socorro, no Rio de Janeiro, diante de câmeras de TV. E eu, que me considerava sobrecarregado, não consigo deixar de sentir uma parte da culpa porque colegas passam por situações como aquela. O que você acha de deixarmos nosso comodismo de lado e pararmos de esperar que somente o governo resolva esse problema da falta de hospitais e de mão-de-obra qualificada para eles???

Faço votos para que, apesar das adversidades, poder público, sociedade e trabalhadores da saúde possam cada vez mais somar competências e dividir responsabilidades, conforme havia preconizado um de nossos professores da faculdade, que chegou a ser subsecretário de saúde de Sobral. Como eu já havia também preconizado, que cada cidadão procure fazer sua parte, pensando no bem estar individual e coletivo. Faço votos ainda para que aqueles postos de trabalho que estão vagos e os que serão abertos venham a ser preenchidos cada vez mais por mão-de-obra nova, qualificada, que realmente precise e mereça aqueles empregos.




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