Doutores no divã

                      O mês de outubro também foi dedicado à celebração do Dia do Médico, mais precisamente no seu 18° dia. Mesmo tardia, não deixa de ser pertinente a reflexão a seguir, sobre o trabalho do médico, até porque o principal colaborador deste espaço ainda está procurando um bom motivo para comemorar seus cinco anos de colação de grau em medicina, em dezembro próximo.

                      Segundo o Código de Ética Médica, em sua edição atual e vigente, em seu segundo capítulo, mais precisamente, é direito do médico:

IV - Recusar-se a exercer sua profissão em instituição pública ou privada onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar a própria saúde ou a do paciente, bem como a dos demais profissionais. Nesse caso, comunicará imediatamente sua decisão à comissão
de ética e ao Conselho Regional de Medicina;

V - Suspender suas atividades, individualmente ou coletivamente, quando a instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições adequadas para o exercício profissional ou não o remunerar digna e justamente, ressalvadas as situações de urgência e
emergência, devendo comunicar imediatamente sua decisão ao Conselho Regional de Medicina.

                      À quais "condições adequadas para o exercício profissional" e de remuneração digna e justa se referem o Código de Ética Médica, se ainda não há um lugar que possa ser considerado perfeito para se trabalhar??? Um local de trabalho mais próximo de atender àqueles quesitos seria onde o médico pudesse atender satisfatoriamente à uma demanda razoável de pacientes, sem sofrer muitos desgastes físico e emocional, produzindo resultados satisfatórios para si, seu grupo de trabalho e sua comunidade, sendo por isso devida e pontualmente recompensado de maneira compatível com alguma qualidade de vida razoável.

                      Segundo a FENAM (Federação Nacional das Entidades Médicas), o piso salarial justo para a classe médica, considerando inflação e custo de vida, seria de cerca de 11 mil reais mensais, para uma carga horária de trabalho semanal de 20h. Ou seja, o salário mínimo de todos os médicos brasileiros deveria ser esse, para que eles pudessem viver confortavelmente com suas famílias.

                      Na prática, muitas vezes o médico se sente explorado, trabalhando em lugares onde carrega um fardo imenso e é mal remunerado por isso, se vendo, por vezes, obrigado a tentar abarcar o mundo com as pernas, juntamente com sua equipe de trabalho, diante de algo gigantesco, como se fosse Davi enfrentando o gigante Golias.

                      Por vezes, o médico é incompreendido pela comunidade que assiste, por seus familiares e mesmo por seus pares. Dizem que ele está ficando mofino ou que ele tem algum problema em sua personalidade que o leva a ter problemas em qualquer ambiente de trabalho e que deveria trabalhar isso em psicoterapia. Tentam ensinar ao médico a ter empatia pelos pacientes, que é tentar colocar-se no lugar do outro, mas quem ensina os pacientes a ter empatia pelo médico e pelos demais profissionais da saúde???

                      Quiçá exista um local de trabalho perfeito para um médico, mas quem já estiver trabalhando lá certamente não vai sair de lá, nem vai revelar este seu pequeno segredo, o caminho para Eldorado, aos colegas, a não ser por um bom motivo. Enquanto não se encontra um lugar para trabalhar que atenda àqueles requisitos, o jeito é apelar para o bom senso, procurando lugares com perfil mais próximo possível do ideal e evitando lugares que beiram a insalubridade. E, assim, vamos buscando nos adaptar a algum lugar ao sol, sempre em busca do novo.

                      Tenha uma boa semana.